Santa Maria de Araras, parte 1: Reprodutores

Por Renato Gameiro
   Sempre primei por reconhecer a opinião alheia e a respeitar conceitos que muitas vezes são contrários aos meus. Contudo nego-me terminantemente a achar que alguém chegou onde chegou por obra do acaso do Espírito Santo.  A exceção dos ganhadores da loteria e da Dilma, a maioria das pessoas estão onde estão porque mereceram chegar lá e quando se mantém por um longo período, apenas provam que aquele lugar lhe era por direito.
Wild Event
   Crítica é uma característica bem brasileira. Se há governo sou contra! E durante anos vi serem cobradas no Araras a vinda de reprodutores de melhor reputação como Royal Academy ou Elusive Quality, e ao mesmo tempo igualmente constatei que a resposta deste estabelecimento de cria era dada semanalmente em pista. Ano após ano. Seriam então as éguas? Seria a criação? Será então que os reprodutores em nada contribuíram? São obras do acaso?
   Duvido.
   Wild Event pode vir a ser o mais importante reprodutor da história moderna brasileira se ultrapassar a Ghadeer. Faltam apenas quatro individuais ganhadores de grupo. Sinto muito, mas me recuso a compará-los. Os vejo de forma distinta. Ambos serão para sempre marcos em nossa criação. Como o foram Clackson, Waldmeister e outros. Nunca comparei divindades e não seria agora que o farei.
   Mas o raciocínio lógico me impele a concordar com Julio Bozano, que vê Ghadeer como um reprodutor excepcional apoiado pelos três dos cinco mais importantes haras da época, e do outro Wild Event, apoiado em quase a sua totalidade por somente um haras e que ainda sujeito a perda de uma temporada, em sua incursão na Argentina.
   Julio Bozano poucas vezes se afastou do verdadeiro chefe de raça.  Segundo ele algo que lhe foi trazido por um de seus primeiros técnicos contratados. Acredito que ele pense que nas cercanias da fonte nunca irá faltar água. Outros preferem arriscar tentar no deserto.
   No quadro geral de reprodutores pelo número de individuais ganhadores de grupo, entre os 25 melhores colocados em nossa história, nada menos que seis de seus importados, figuram: Jules com 19, Present the Colors com 24, Put it Back com 41, Wild Event com 61 e Ghadeer (do qual tinha 25%) com 65. Devem ser igualmente citados Bright Again com 12 , Signal Tap com 12, Tokatee com nove, Vacilante com oito e o inesquecível Sabinus com 10.
   E tudo na verdade teve seu início com Sabinus, um cavalo negro de grande complexão física e que se empunha com sua presença. Vi Julio Bozano iluminar-se ao lembrar da aquisição de Sabinus. Descreveu-me, inclusive a capa, que trajava, do Washington D. C International e da empinada que deu ao adentrar ao Tattersall. “Naquele momento senti que ele seria meu”.
   Este é a intuição que o criador e proprietário de cavalos de corrida deve ter: sentir em seu interior a força de um cavalo. Do que aquele indivíduo possa ter. E isto é um dos detalhes que você descobre, imediatamente, ao dar entrada no Araras. Seja no Paraná. Seja em Bagé. Um compromisso com algo superior.
   O Araras é todo um sistema profissional implantado para dar certo. Saiu praticamente do nada, como todos os projetos de arquitetos saem: de uma folha em branco. Teve seu início em Teresópolis. Transferiu-se para São José dos Pinhais. E hoje, no Brasil, tem sua base em Bagé.
   O sucesso no Araras parece vir a cavalo e seus reprodutores são parte importante do mesmo.

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